quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cordel sobre o tempo


O TEMPO(*)
Marcos Mairton

O tempo é um bicho teimoso
Que nunca obedece a gente.
Se a gente quer que ele corra,
Ele avança lentamente.
Mas, se quer que ele vá lento,
É ligeiro como o vento
Ou uma estrela cadente.

Bem o sabe aquela jovem
Que espera o namorado,
Olhando para o relógio
Que parece estar parado.
Mas, quando está com o rapaz,
O tempo parece mais
Um cavalo disparado.

No jogo de futebol,
É a mesma situação:
Se seu time está vencendo
O tempo é só lentidão.
Mas, se o time está perdendo,
Lá vai o tempo correndo
Sem olhar nossa aflição.

O tempo passa depressa
Pra quem acordou agora,
Quer dormir mais um pouquinho,
Mas do trabalho é a hora.
Passa o tempo devagar
Para quem tem que esperar
Que um chato vá embora.

O homem tenta medir
O tempo que há no mundo,
Em anos, meses e dias
Horas, minutos, segundos.
Mas, também nessa medida,
Pelo homem escolhida,
O mistério é dos profundos.

Pois, se em mais de mil pedaços
Um dia for dividido,
Cada pedaço é um minuto
Desse tempo repartido.
Nessas partes desiguais,
Tem dia curto demais
E minuto que é comprido.

Falo todas essas coisas
Mas eu sei que, na verdade,
O tempo é apenas fruto
Da nossa engenhosidade.
Fomos nós que o criamos
E agora nos sujeitamos
A toda essa má vontade.

Inventamos o relógio
E também o calendário,
Dividimos nossa vida,
De um jeito arbitrário,
E, em frações de existência,
Vivemos sob a regência
Desse ser imaginário.

(*) Publicado originariamente na coluna "Contos, crônicas e cordéis" do Jornal da Besta Fubana.

Um comentário:

  1. Muito bom!
    Como dizia minha avó: Prego batido de ponta virada!! (Refiro-me a rima), ser poeta, é na verdade, um dom especial.. Feliz 2013 repleto de realizações!!

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