quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cordéis em livro


Das feiras para a livraria
10 de agosto de 2010



Adriana Del Ré

Das feiras populares nordestinas às livrarias. Esse tem sido uma travessia cada vez mais comum para o cordel, gênero literário genuinamente brasileiro. Vindo da tradição oral e, depois, publicado como folheto a preços baixos, esse tipo de poesia popular passou a ser editado no formato de livros, sobretudo nas adaptações de clássicos mundiais. O mercado editorial interessado nesse filão acaba de ganhar reforço: a nova coleção Contos em Cordel, da Panda Books, que inicia suas atividades com dois títulos: Branca de Neve, dos Irmãos Grimm, e O Pequeno Polegar, de Charles Perrault.



Nesta primeira edição, cada um deles foi lançado com tiragem de 3 mil exemplares. As adaptações dos dois clássicos para o cordel são de autoria de Varneci Nascimento e as ilustrações , de Rogério Coelho (O Pequeno Polegar) e Andrea Ebert (Branca de Neve). “Nossa ideia é lançar dois livros por ano”, diz Varneci. Estudioso dessa literatura, ele é autor de mais de 200 obras em cordel, das quais 52 já foram publicadas no formato de livros ou folhetos.



Além disso, ele também presta consultoria à tradicional Editora Luzeiro, baseada em São Paulo e há 60 anos especializada na publicação de folhetos de cordel. “Decidimos mexer no nosso catálogo para valorizar essa cultura”, diz Tatiana Fulas, coordenadora editorial da Panda Books. Segundo ela, a coleção tem como alvo o público infanto-juvenil, a partir dos 9 anos, como ferramenta para auxiliar nessa fase importante de formação de leitores. “O professor pode trabalhar esse material rico com os alunos, comparando a narrativa com a poesia”, sugere a coordenadora da Panda.



Aliás, o fato de o cordel ter sido recomendado dentro das salas de aula pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, do MEC, fez com que as editoras investissem ainda mais nas próprias coleções do gênero. “No ano passado, só para a rede pública de ensino, vendemos cerca de 26 mil exemplares de cada um de três títulos, que são adaptações de A Megera Domada, O Corcunda de Notre-Dame e Os Miseráveis”, afirma Marco Haurélio, que já trabalhou na Luzeiro e atualmente coordena a coleção Clássicos em Cordel, da Editora Nova Alexandria.



“O cordel publicado em livro ainda causa estranhamento, porque alguns pesquisadores o relacionam com folhetos. Mas a literatura, como um todo, precisa acompanhar a evolução. Podemos manter o pé na vanguarda, sem abandonar a tradição”, diz.



Há quem diga que o cordel tenha nascido no Brasil, sem qualquer herança externa, como defende Varneci Nascimento. Outro pesquisador do assunto, Haurélio também defende essa legitimidade nacional do gênero, mas acredita que haja matrizes longínquas em lugares como Europa e África. “O cordel nasceu na Paraíba, no final do século 19. Um dos nossos primeiros cordelistas – senão o primeiro – foi Leandro Gomes de Barros. Ele criou todos os temas trabalhados até hoje”, conta Haurélio.



Importante editora cearense especializada em cordel, a IMEPH começou a atuar fortemente no mercado editorial a partir de 2005. “De 70% a 80% dos títulos que editamos é em formato de cordel”, diz Lucinda Marques de Azevedo, sócia da editora. Atualmente, a rede de ensino pública é uma das principais parceiras da empresa. “A venda em livrarias ainda é muito pequena. Nos últimos 3 anos, o total de títulos vendidos em cordel chega próximo a 200 mil exemplares”, diz ela.



“Entre 2007 e 2008, vendemos 98 mil livros para o projeto Alfabetização de Jovens e Adultos, do MEC”. A editora, que está se consolidando no Nordeste, quer expandir. “Nossa ideia é conseguir distribuidores para ampliar a possibilidade de mercado para nós. Estaremos em São Paulo, para participar da Bienal do Livro”, diz.


4 comentários:

  1. AMO CORDEL, ACHO LINDA A INICIATIVA DO GOVERNO EM IMPLEMENTÁ-LO NA EDUCAÇÃO. NO ENTANTO, O CORDEL NÃO É RESPEITO, POR EXEMPLO:BRANCA DE NEVE, CINDERELA, OS IRMÃO GRIMM NÃO FAZEM PARTE DA CULTURA IDEOLOGICA DOS CORDELISTAS. LOGO NÃO CONSIDERO ESSAS ADAPITAÇÕES COMO CORDEIS E SEMPRE QUE UM ALUNO ME MOSTRA OU PERGUNTA RESPONDO QUE ESSAS OBRAS NÃO SE TRATAM DE CORDEIS... TAMBÉM PROCURO LEVAR PARA SALA DE AULA CORDEIS DE VERDADE PARA MOSTRAR PARA MEUS ALUNOS... ATÉ PQ ELES AINDA SÃO BARATOS! RSRSRS

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  2. Isso dá um bom debate. Vou colher algumas opiniões de cordelistas, para ver o que pensam. Depois postarei aqui. Enquanto isso, vou pensando um pouco também, pois, em princípio, gosto das adaptações, mas seu comentário me estimulou a refletir...

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  3. http://lilianpoesiablogs.blogspot.com/

    NO SEMINÁRIO EDUCAÇÃO EM FOCO: LINGUAGEM E CULTURA. ESTAREMOS TRATANDO SOBRE ESSE TEMA TB. O PROFESSOR MESTRE GENIVALDO DO NASCIMENTO TEM PESQUISAS LANÇADAS NESSA ÁREA E ESTARÁ PALESTRARNDO... TEREMOS TB UM GENUINO GRUPO DE CORDELISTAS DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE PETROLINA-PE.
    PARABÉNS PELO BLOG! SEMPRE O INDICO PARA OS ALUNOS...

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  4. Caro Mairton,
    a questão sobre o que é ou não cordel ainda se arrastará por muito tempo.Conheço cordel desde os seis anos, e sempre gostei mais do formato utilizado pela editora Luzeiro, sem desprezar os demais. A essência do cordel está no formato, não no texto. A marcha do progresso é inevitável, embora, no caso do nosso cordel, a tradição conviva muito bem com a tecnologia. Como disse Aderaldo Luciano, em sua tese Literatura de Cordel: Visão e Revisão, o cordel é, ao mesmo tempo, tradição e vanguarda.

    Quanto à presença dos Irmãos Grimm e de outros autores “estrangeiros” no cordel, ela se dá desde o início da editoração de folhetos populares no Brasil. Leandro Gomes de Barros adaptou histórias das Mil e Uma Noites e Severino Borges verteu para o cordel O Gato de Botas, de Perrault. João Martins de Athayde, contemporâneo de Leandro, nos legou uma lindíssima versão de A Bela Adormecida no Bosque.

    Os contos populares, ou tradicionais, existem entre todos os povos e apresentam tantas similaridades, que merecerem estudos comparados de pesquisadores como Anti Aarne, Stith Thompson e Hans Jorg Uther. Em Contos Tradicionais do Brasil, nosso mestre maior no estudo das tradições populares, Luís da Câmara Cascudo, apresenta os elos entre os contos por ele recolhidos e outros de proveniência diversa.

    Nós, brasileiros, somos resultado de diversas culturas. O cordel nordestino, mesmo sendo um produto autenticamente brasileiro, traz em sua temática referências que se perdem na noite dos tempos.

    Que o cordel seja julgado pela qualidade de seu texto, não pela vestimenta ou temática que aborda.

    Grande abraço!

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