terça-feira, 4 de novembro de 2008

O cordel e os clássicos da literatura


CLÁSSICOS NO CORDEL



Clássicos da literatura estão sendo adaptados para os cordéis. Assim, é possível reler obras de escritores como Machado de Assis

Dramas contundentes, paixões traiçoeiras, ´causos´ escrabosos, bravura ´quixotesca´. Romantismo e muito humor. São alguns dos ingredientes que endossam uma boa história de cordel. Sem falar, ainda, do ritmado certeiro e do compasso inebriante de seus versos popularescos. Como trovadores medievais, os cordelistas do Nordeste dinfundem ´mundo afora´ narrativas e poéticas embasadas nas tradições orais, que, segundo o estudioso Paul Zumthor, referem-se à transmissão oral, conduzida entre as gerações, dos conhecimentos armazenados na memória do ser humano.
Em toda a história da literatura erudita, a narrativa popular sempre exerceu forte influência. A partir dela, grandes escritores como o inglês William Shakespeare e os brasileiros Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa, encontraram a inspiração necessária para criar seus romances, contos e peças teatrais. Da mesma forma, como uma troca constante, a poesia popular se apropria de elementos da esfera erudita para tecer suas histórias.

Exemplo disso, é a adaptação produzida para a linguagem de cordel dos grandes clássicos da literatura nacional e internacional. Os cordelistas cearenses Klévison Viana, Rouxinol do Rinaré e Arievaldo Viana são mestres no ofício. Cada um, a sua maneira, vem realizando várias produções dessa natureza. Atualmente, estão lançando três novas adaptações: ´A ambição de Macbeth e a maldade feminina´, de Arievaldo Viana(Cortez Editora); ´Os Miseráveis´, de Klévisson Viana, e ´O Alienista´, de Rouxinol do Rinaré,( ambas pela editora Nova Alexandria).

Com ´A ambição de Macbeth e a maldade feminina´, Arievaldo Viana realiza uma livre adaptação do livro ´Macbeth´, de William Shakespeare. Promovendo um recorte sobre os principais acontecimentos dessa obra, o cordelista constrói uma narrativa interessante que enfatiza toda uma aura de mistério, excitando a curiosidade do público. Klévisson Viana, por sua vez, realiza a adaptação de ´Os Miseráveis´, romance homônimo de Victor Hugo. Nele o autor une aspectos da linguagem popular (expressões e gírias locais) com construções mais rebuscadas provenientes da obra original. Em ´O Alienista´, o poeta Rouxinol do Rinaré mostra-se fiel ao texto original de Machado de Assis, mas, ao mesmo tempo, preza pelo bom humor e pela ironia, tão bem focada pela poesia dos cordéis.

Cordel educativo

A literatura de cordel tem se mostrado um importante instrumento pedagógico capaz de facilitar o processo de ensino-aprendizado de jovens e crianças. Reconhecendo o potencial desse gênero, o Ministério da Educação vem incorporando na sua política de formação de leitores e democratização do acesso de alunos e professores à cultura e à informação, através do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), a poesia dos cordéis em sala de aula. ´Os Miseráveis´ (Klévisson Viana) e ´A ambição de Macbeth e a maldade feminina´ (Arievaldo Viana) farão parte do programa em 2009.

Criador do ´Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula´, Arievaldo Viana diz que a poesia popular, por todas as suas características (linguagem simples, jogo de rima e bom-humor), desperta o desejo de jovens, crianças e adultos pela leitura e até mesmo pela escrita de suas próprias histórias. ´A poesia popular chama atenção pelo seu teor educativo, estimulando o interesse da garotada pela leitura e escrita de cordéis. A partir das experiências obtidas em oficinas realizadas em cidades como Campina Grande e Canindé, posso dizer que a receptividade entre os alunos é excelente, sobretudo, em atividades como leitura em grupo e elaboração de novos folhetos. Descobri garotos talentosos, que têm potencial e nem se quer sabiam disso´, conta Arievaldo Viana.

Complementando as palavras do amigo e parceiro de trabalho, Klévisson Viana afirma que o reconhecimento do cordel no setor educativo é fruto de uma atuação sólida, empreendida por artistas dedicados e apaixonados pelo que fazem, abrangendo diversas atividades. ´Devemos considerar não só a feitura do cordel em si, mas todo o trabalho de visitação às escolas, palestras e oficinas que realizamos pelo País´, assinala o cordelista.

Além disso, Klévison destaca que vem crescendo o interesse das editoras em publicar cordel em formatos diferentes do habitual, onde se destaca a presença de capa dura, papel couchê e gravuras coloridas, não necessariamente seguindo os moldes das xilogravuras. ´O formato gráfico pode ser diferente, mas o texto se mantém com as mesmas características: métrica, rima, linguagem simples, narrativa e poesia popular. Não queremos fabricar poetas e nem tomar o lugar do folheto tradicional, mas explorar esses novos formatos, atender uma nova demanda, há mercado para isso. As editoras já estão se atentando para isso´.


LANÇAMENTOS

"A Ambição de Mcbeth e a maldade feminina"
Arievaldo Viana
R$ 27,00
36 páginas
Editora Cortez


"Os miseráveis "
Klévisson Viana
R$ 22,00
47 páginas
2008
Nova Alexandria

"O Alienista"
Rouxinol do Rinaré
R$ 22,00
48 páginas
Nova Alexandria

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