terça-feira, 27 de maio de 2008

Cordel e educação



Literatura de cordel estimula estudantes na sala de aula

Fonte: Jornal O POVO, de 27.05.2008 (http://www.opovo.com.br/opovo/ceara/791940.html)


Professores cearenses dão o exemplo de experiências que baixam os índices de analfabetismo, incentivam a leitura e ensinam a valorizar os conhecimentos regionaisRita Célia Faheinada Redação

Um carrinho de supermercado carregado de livros; a literatura de cordel usada para melhorar a escrita e a leitura dos alunos; a aprendizagem e a formação das crianças de acordo com a realidade que vivem no campo; o cantinho da leitura na escola para desenvolver o Projeto Eu Sou Cidadão - Amigos da Leitura, a presença dos pais nas aulas de educação infantil. São iniciativas de professores cearenses do Interior que obtiveram bons êxitos pedagógicos até recebendo prêmios nacionais. Outro bom exemplo é o projeto Oba Jovem, idealizado por um professor de São Benedito, na Serra da Ibiapaba, que ensina os estudantes a valorizar a cidade e divulgá-la para todo o País.

As rimas que encantam da professora Francisca das Chagas Freitas Moreira, a Chaguinha, lhe renderam bons resultados em sala de aula, melhorando a escrita e a leitura dos alunos de ensino fundamental no Sítio Barrinha, em São Gonçalo do Amarante. O que Chaguinha fez? Investiu na literatura de cordel ensinando os alunos a valorizar o conhecimento da região. Os alunos da 8ª série (atual 9º ano) se encantaram com Patativa do Assaré, passaram a copiar e recitar os poemas do maior poeta popular do Brasil. "Quase não conseguia que eles se desgrudassem do computador", diz Chaguinha.

E, para ter acesso à pesquisa on line, não foi fácil para a professora de Língua Portuguesa da Escola José Pinto Magalhães. O primeiro obstáculo foi introduzir os alunos na informática. "Muitos nunca tinham nem tocado num computador", recorda. Com o apoio da Secretaria estadual da Educação, ela levou a turma para ter noções básicas de informática e Internet. Eram 36 quilômetros de uma estradinha de chão batido até o local das aulas. Valeu o esforço.

O Projeto Cordel: Rimas que Encantam rendeu a Chaguinha o prêmio de Educadora Nota 10 há dois anos. Recebeu livros no valor de R$ 10 mil e uma bolsa de estudos para fazer pós-graduação na universidade que escolhesse. Ela concorreu com 3.800 projetos enviados de todo o País à Fundação Victor Civita.

"Dizem que eu sou uma sonhadora e que se não me amarrarem, saio voando. Mas acho que, quem não sonha é um vegetal e, além de sonhar, tenho ousadia e acredito que quando a gente tenta, dá certo". O otimista da professora contagia a localidade onde vive que fica a quatro quilômetros da sede do município. O projeto continua e serve de exemplo para as demais da rede pública. São 32 unidades educacionais e sete creches.

Maria de Araújo é uma professora tão determinada quanto Chaguinha. Ela conseguiu mudar a realidade educacional e cultural do Assentamento Santana, em Monsenhor Tabosa, a 324 quilômetros de Fortaleza, além de comunidade vizinhas que estudam na Escola de Ensino Fundamental e Médio São Francisco. "Temos um compromisso de manter a nossa cultura e identidade camponesas". Lembra que, em 1986, 90% dos assentados (480 pessoas que formam 77 famílias) eram analfabetos. Atualmente esse percentual é de apenas 1%.

O Projeto Escola no Campo prioriza a cultura do trabalhador rural e qualifica jovens para a vida no campo. Maria lembra que, desde julho de 2004, os estudantes do Assentamento Santana ganharam o Centro Rural de Inclusão Digital (Crid). "Os jovens são gestores e ficaram responsáveis pela continuidade das ações. Também já temos a Rádio Escola com o apoio da Organização Não Governamental (ONG) Catavento que trabalha a educação e a cultura". Segundo a professora, o conjunto de ações minimizou a número de jovens que deixam a cidade para ir trabalhar em outros locais. Em Independência, a Escola Família Agrícola desenvolve um projeto parecido. A educação para o campo resgata a cultura e busca manter os jovens na zona rural.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Poesia popular gaúcha

Imagem obtida em http://www.sougaucho.com.br/gaucho/traje1820_1965.htm


O BOCHINCHO

Recebi esta do meu amigo Paulo Benz, poeta nascido no Rio Grande do Sul, mas que se deu muito bem no Rio Grande do Norte, vivendo atualmente na cidade de Natal.

Segundo Paulo Benz, "O Bochincho", de autoria de Neto Fagundes [três leitores já comentaram este post (ver abaixo), dizendo que a obra é na verdade de Jaime Caetano Braun], é um dos poemas mais conhecidos nos pampas. O que mais me chamou a atenção foi a semelhança com a literatura de cordel do Nordeste, fato já observado também por P. Benz.

Obrigado, poeta, pela colaboração. E que os poetas de todas as partes do Brasil e do mundo possam enviar trabalhos semelhantes. Todos são muito bem vindos neste Mundo Cordel...

A um bochincho - certa feita,
Fui chegando - de curioso,
Que o vicio - é que nem sarnoso,
nunca pára - nem se ajeita.
Baile de gente direita
Vi, de pronto, que não era,
Na noite de primavera
Gaguejava a voz dum tango
E eu sou louco por fandango
Que nem pinto por quirera.

Atei meu zaino - longito,
Num galho de guamirim,
Desde guri fui assim,
Não brinco nem facilito.
Em bruxas não acredito
'Pero - que las, las hay',
Sou da costa do Uruguai,
Meu velho pago querido
E por andar desprevenido
Há tanto guri sem pai.

No rancho de santa-fé,
De pau-a-pique barreado,
Num trancão de convidado
Me entreverei no banzé.
Chinaredo à bola-pé,
No ambiente fumacento,
Um candieiro, bem no centro,
Num lusco-fusco de aurora,
Pra quem chegava de fora
Pouco enxergava ali dentro!

Dei de mão numa tiangaça
Que me cruzou no costado
E já sai entreverado
Entre a poeira e a fumaça,
Oigalé china lindaça,
Morena de toda a crina,
Dessas da venta brasina,
Com cheiro de lechiguana
Que quando ergue uma pestana
Até a noite se ilumina.

Misto de diaba e de santa,
Com ares de quem é dona
E um gosto de temporona
Que traz água na garganta.
Eu me grudei na percanta
O mesmo que um carrapato
E o gaiteiro era um mulato
Que até dormindo tocava
E a gaita choramingava
Como namoro de gato!

A gaita velha gemia,
Ás vezes quase parava,
De repente se acordava
E num vanerão se perdia
E eu - contra a pele macia
Daquele corpo moreno,
Sentia o mundo pequeno,
Bombeando cheio de enlevo
Dois olhos - flores de trevo
Com respingos de sereno!

Mas o que é bom se termina
- Cumpriu-se o velho ditado,
Eu que dançava, embalado,
Nos braços doces da china
Escutei - de relancina,
Uma espécie de relincho,
Era o dono do bochincho,
Meio oitavado num canto,
Que me olhava - com espanto,
Mais sério do que um capincho!

E foi ele que se veio,
Pois era dele a pinguancha,
Bufando e abrindo cancha
Como dono de rodeio.
Quis me partir pelo meio
Num talonaço de adaga
Que - se me pega - me estraga,
Chegou levantar um cisco,
Mas não é a toa - chomisco!
Que sou de São Luiz Gonzaga!

Meio na volta do braço
Consegui tirar o talho
E quase que me atrapalho
Porque havia pouco espaço,
Mas senti o calor do aço
E o calor do aço arde,
Me levantei - sem alarde,
Por causa do desaforo
E soltei meu marca touro
Num medonho buenas-tarde!

Tenho visto coisa feia,
Tenho visto judiaria,
Mas ainda hoje me arrepia
Lembrar aquela peleia,
Talvez quem ouça - não creia,
Mas vi brotar no pescoço,
Do índio do berro grosso
Como uma cinta vermelha
E desde o beiço até a orelha
Ficou relampeando o osso!

O índio era um índio touro,
Mas até touro se ajoelha,
Cortado do beiço a orelha
Amontoou-se como um couro
E aquilo foi um estouro,
Daqueles que dava medo,
Espantou-se o chinaredo
E amigos - foi uma zoada,
Parecia até uma eguada
Disparando num varzedo!

Não há quem pinte o retrato
Dum bochincho - quando estoura,
Tinidos de adaga - espora
E gritos de desacato.
Berros de quarenta e quatro
De cada canto da sala
E a velha gaita baguala
Num vanerão pacholento,
Fazendo acompanhamento
Do turumbamba de bala!

É china que se escabela,
Redemoinhando na porta
E chiru da guampa torta
Que vem direito à janela,
Gritando - de toda guela,
Num berreiro alucinante,
Índio que não se garante,
Vendo sangue - se apavora
E se manda - campo fora,
Levando tudo por diante!

Sou crente na divindade,
Morro quando Deus quiser,
Mas amigos - se eu disser,
Até periga a verdade,
Naquela barbaridade,
De chínaredo fugindo,
De grito e bala zunindo,
O gaiteiro - alheio a tudo,
Tocava um xote clinudo,
Já quase meio dormindo!

E a coisa ia indo assim,
Balanceei a situação,
- Já quase sem munição,
Todos atirando em mim.
Qual ia ser o meu fim,
Me dei conta - de repente,
Não vou ficar pra semente,
Mas gosto de andar no mundo,
Me esperavam na do fundo,
Saí na Porta da frente...

E dali ganhei o mato,
Abaixo de tiroteio
E inda escutava o floreio
Da cordeona do mulato
E, pra encurtar o relato,
Me bandeei pra o outro lado,
Cruzei o Uruguai, a nado,
Que o meu zaino era um capincho
E a história desse bochincho
Faz parte do meu passado!

E a china? - essa pergunta me é feita
A cada vez que declamo
É uma coisa que reclamo
Porque não acho direita
Considero uma desfeita
Que compreender não consigo,
Eu, no medonho perigo
Duma situação brasina
Todos perguntam da china
E ninguém se importa comigo!

E a china - eu nunca mais vi
No meu gauderiar andejo,
Somente em sonhos a vejo
Em bárbaro frenesi.
Talvez ande - por aí,
No rodeio das alçadas,
Ou - talvez - nas madrugadas,
Seja uma estrela chirua
Dessas - que se banha nua
No espelho das aguadas!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Cordel e Clássicos da Literatura



CLÁSSICOS EM CORDEL NO SALÃO DO LIVRO NO RIO

Os dois livros da Coleção Clássicos em Cordel estarão à venda no Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, no Rio de Janeiro. Os livros integram o estande da Editora Nova Alexandria.
Os Miseráveis, adaptação do cordelista e ilustrador Klévisson Viana do romance de Victor Hugo, narra as aventuras de Jean Valjean, um dos mais belos personagens da literatura universal.
O Corcunda de Notre-Dame, de João Gomes de Sá, também adaptado a partir de um romance do grande escritor francês, é a história de Quasimudo (Quasímodo no original), o corcunda da Catedral de Santana, pequena cidade do interior nordestino.
Os dois livros são magistralmente ilustrados pela dupla Murilo e Cíntia.



10º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens Local: MAM – Museu de Arte Moderna Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85 Parque do Flamengo RJ • Tel: (21) 2240-4944 Data: De 21 de maio a 1º de junho de 2008 Horário: Segunda a sexta, das 8h30 às 18h; sábados, domingos e feriado, das 10h às 20h. Ingresso: R$ 3,00 (gratuidade para maiores de 65 anos, portadores de deficiência e professores da Rede Municipal de Ensino) FNLIJ • Tel.: (21) 2262-9130 /

www.fnlij.org.br

terça-feira, 20 de maio de 2008

Cordel e coisas antigas (Mundim do Vale)


POESIA DE MUNDIM DO VALE

Recebi mais uma colaboração de Mundim do Vale, que, em sua generosidade, sempre nos presenteia com versos da melhor qualidade.


Desta vez, o poeta fala de coisas que já não se vê mais, que ficaram obsoletas nesse mundo louco em que vivemos. O interessante é perceber que as coisas estão ficando obsoletas cada vez mais rapidamente.


É O NOVO!
Mundim do Vale

Um amigo me pediu
Pra fazer uma rima antiga,
E da cabeça saiu
Constipação e fadiga.
Forcei minha paciência
Me lembrei de saliência,
De apocada e sisuda.
Lembrei de moça falada,
De mulher amancebada,
De teúda e manteúda.

Me lembrei de taboada
Para ensinar a contar,
Lembrei quando era cobrada
A minha taxa escolar.
Lembrei revista Cruzeiro,
Papel almaço, tinteiro,
A pena e o mata-borrão.
Lembrei de aluno pescando,
E a professora brigando
Com a palmatória na mão.

Me lembrei de andajá,
De enganador de apito,
Bolo ligado, aluá,
E taboa de pirulito.
Puxei mais pela memória,
Lembrei de cigarro Astória,
Continental e Elvira.
Lembrei chiclete de bola,
Quebra queixo, mariola
E de mel de Jandaíra.

Lembrei roleto de cana
E papa de carimã,
De prato de porcelana
E pastilha de hortelã.
Falei em gripe asiática,
Em cola de goma arábica,
Jardineira e marinete.
Falei em réis e tostão,
Cueca samba canção,
Suco de uva e grapete.

Falei em fogão Jangada,
Em cepo de caminhão,
Isqueiro sete lapada
E na dança de feição.
Lembrei de bingo dançante,
De caixeiro viajante
E de bica jacaré.
Falei em vento caído,
Catapora, estalicido,
Pereba e bicho de pé.

Lembrei de blusa banlon,
De riri, de gigolé,
De música de Roni Von,
De frejo e de cabaré.
Sem perguntar a ninguém,
Lembrei foguista de trem,
Pastorinha e sacristão.
Lembrei de bola de meia,
Bingo de galinha cheia
E de jogo de gamão.

Das coisas que me lembrei
Teve sabão de tinguí,
Cana madeira de lei
E a velha T.V. Tupi.
Relógio de algibeira,
Espingarda socadeira,
Show de Tonico e Tinôco.
Caco de torrar café,
Frasco de guardar rapé,
Rosário feito de coco.

Não esqueci de lambreta
O transporte do Playboy,
Me lembrei de carrapeta,
De corrupio e rói rói.
Lembrei jogo de peteca,
De relancim e sueca,
De lu e cara ou coroa.
Também lembrei mina avó
Que fazia pão- de- ló,
Manzape, sequilho e broa.

Também lembrei Ludugero
Mandando Otrope calar,
A marcha “ Mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar. “
Da revista Luluzinha,
Das músicas de Emilinha,
E o livro Capivarol.
Lembrei de disco de cera,
De pingüim de geladeira,
De quartinha e urinol.

Eu me lembrei de frasqueira,
Bateria pra panela,
De bule, de cristaleira,
Colher de pau e sovela.
Perguntei a um beradeiro
Quem foi que nasceu primeiro
Se foi o pinto ou o ovo.
Quando mostrei esse verso,
Pensando ser um sucesso
Ele me disse: - È o novo!.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Cordel e Clássicos da Literatura (Arievaldo e Jô)



LANÇAMENTO DE "A AMBIÇÃO MACBETH"


Será na próxima quarta-feira, dia 21, às 12 horas em ponto, no Salão do Livro do Rio de Janeiro. O Salão do Livro está montado no pátio do Museu de Arte Moderna, MAM, no centro do Rio de Janeiro, ao lado do aeroporto Santos Dumont. Presença de JÔ OLIVEIRA e do presidente da ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL, poeta GONÇALO FERREIRA.


A AMBIÇÃO DE MACBETH E A MALDADE FEMININA

Autor: Arievaldo Viana (Livre adaptação da obra MACBETH, de William Shakespeare)


Drama contundente, onde a ambição de um homem aparentemente bom e justo e a maldade cega de uma perversa mulher os conduzem à perdição. Saiba como o ser humano pode ser levado a cometer maldades por causa de ambições e emoções ocultas dentro de si. Bravura! Feitiçaria! Ambição! Traição e morte!


De Eva, a primeira mãe,
Nasceu toda perdição;
Tentada pela serpente,
Persuadiu a Adão
E fê-lo comer do fruto
Que nos trouxe a maldição.

A beleza das mulheres
E seu carinho materno
São os dotes mais perfeitos
Que lhes deu o Pai Eterno,
Mas a perfídia de algumas
Pode levar ao inferno.

Estudiosos de hoje
Têm outro ponto de vista,
Alegam que as escrituras
Possuem um teor machista
E que essa visão é própria
De um porco chauvinista.

Porém, deixando de lado
Nossa Sagrada Escritura,
Peguemos, pois, outro exemplo
Na pagã literatura:
O drama de Macbeth,
Realidade mais pura.


quinta-feira, 15 de maio de 2008

Cordel e Amazônia (Marcus Lucenna)


LITERATURA DE CORDEL EM DEFESA DA AMAZÔNIA

Recebi esta semana o Jornal Nação Nordeste. Nele a poesia “A Amazônia é nossa”, de Marcus Lucenna, poeta e cantador; Diretor Cultural da ABLC - Academia Brasileira de Litaratura de Cordel - www.ablc.com.br. Não há como não trazer para MundoCordel esse brado em defesa de tesouro tão valioso. Eis a poesia, na íntegra:

A AMAZÔNIA É NOSSA

Vou falar da Amazônia
A terra da promissão
Que hoje o mundo cobiça
Pela sua imensidão
A biodiversidade
E a riqueza do seu chão.

A sua maior porção
Pertence a nós brasileiros
Porém, Peru e Colômbia
Tem ela nos seus terreiros
Venezuela e Bolívia
Dela também são parceiros.

Lá também vivem os primeiros
Donos deste novo mundo
Os índios a quem devemos
O respeito mais profundo
E o brasileiro cabôclo
Povo mestiço e fecundo.

Precisamos ir bem fundo
Ao tratar dessa questão
Que mexe com nossa vida
Com a nossa imaginação
Com a história e o futuro
Da nossa grande nação.

Amazônia é equação
Que temos que resolver
Se será fácil ou difícil
O tempo é quem vai dizer
É nosso dever de casa
E vamos ter que fazer.

Nós precisamos dizer
Ao mundo com galhardia
Que os povos da Amazônia
Da sua rica bacia
São os seus únicos donos
Têm dela a soberania.

Dia e noite, noite e dia
Precisamos combater
Com idéias, com ações
Senão é fácil prever
Toda essa nossa riqueza
Haveremos de perder.

Todos precisam saber
Dessa grande orquestração
Que os poderosos do mundo
Vêm movendo desde então
Pra tomarem a Amazônia
Movidos pela ambição.

Debaixo daquele chão
Tem prata,tem gipsita
Tem diamantes, titânio
Ferro, ágata, malaquita
Citrinos, molibidênio
Tem tungstênio e bauxita.

Veios de ouro e pepitas
Urânio, gás, manganês
Tem petróleo, alumínio
Potássio e digo a vocês
Onde tem tanta riqueza
O gringo nunca é cortês.

Gringo não quer ser freguês
E também não quer ser sócio
Quer meter a mão em tudo
Ser o dono do negócio
Acham que somos otários
Que o nosso povo é beócio.

Mas o sol em equinócio
Na linha do equador
Ilumina o nosso povo
Com tanta luz e esplendor
Que um povo com esse brilho
Não pode ser perdedor.

Precisamos dar valor
As forças que a gente tem
Novo colonizador
Aqui não vai se dar bem
Nós não queremos ser mais
Escravos de mais ninguém.

Na Amazônia ainda tem
Tântalo, topázio e linhito
Fluor, zinco, tório, cromo
Um território bonito
Nióbio, ítrio e as águas
Do Amazonas bendito.

Porém tem muitos conflitos
Com grileiro, com posseiro
Tem também falsos pastores
À serviço do estrangeiro
Queimadas pra criar gado
Fazendeiro e madeireiro.

Mas cabe a nós brasileiros
Puxar o mote, o refrão
Chamar os nossos vizinhos
Com bom senso e união
Pra defender nossas pátrias
Patrimônio e rico chão.

Hoje com a concentração
Das furtunas pela terra
Com a riqueza em poucas mãos
Ou a gente grita e berra
Ou pra ter a Amazônia
Teremos que entrar em guerra.

O ronco da motoserra
Fumaça e poluição
As pastagens para o gado
Matando a vegetação
Mostra que estamos errando
Na forma de ocupação.

Damos ao gringo a visão
que não sabemos cuidar
Do que eles chamam pulmão
Do mundo a fábrica de ar
É com essa conversa mole
Que eles querem nos lezar.

Precisamos implantar
A auto-sustentação
Respeitando a natureza
Porém com convicção
Que a Amazônia é nossa
E gringo não põe a mão.

No futuro a geração
Que virá depois de nós
Vai poder se orgulhar
E dizer: nossos avós
Fizeram um grande país
Não nos deixaram a sós.

Então solto minha voz
Nesse momento presente
Em nome desse futuro
Onde estará nossa gente
Se a gente fortalecer
Os elos dessa corrente.

Do peão ao presidente
Chico, Mané e Antônia
Do Oiapoque ao Chuí
De Mossoró à Rondônia
Precisamos nos unir
Pra salvar a Amazônia.

Mas se o gringo é nossa insônia
Agiremos dando duro
Rumando na caminhada
Com ninguém deixando furo
Unidos pela Amazônia
Senão, adeus bom futuro.

Lutemos até no escuro
Unidos em harmonia
Com garra, força e coragem
Enfrentando a vilania
Não daremos o que é nosso
Não queiram o que não é vosso
A nossa soberania.